Nesse post, vou explicar qual decisão financeira eu tomei e não precisaria de uma máquina do tempo para modificar o meu passado (ou melhor, o meu futuro).

Lembro-me perfeitamente da época que comecei com 22 anos, com carteira assinada e um salário um pouco acima da média de outros recém-formados em outras profissões. Naquela época, atuários eram pouco mais de 500 em atividade no Brasil e podíamos nos dar ao luxo de sair da universidade, todos da turma (em torno de 30 formados) já empregados. Era natural. Era 1998. Bons tempos…

Logo que fui admitido, já tinha em mente uma importante decisão financeira tomada: “ter um plano de previdência”. Para mim foi uma decisão muito fácil. Eu trabalhava em um fundo de pensão.

Entendia o que significaria o efeito dos juros compostos, trabalhando a meu favor, frente ao tempo que teria pela frente, se começasse logo a contribuir para uma previdência privada.

Eu era jovem, não era casado e não tinha filhos, mas já não vivia mais com meus pais.

Antes de ser admitido, por estagiar na própria empresa, já tinha decidido algo um tanto quanto “fora dos padrões”, algo ainda raro hoje em dia. Eu queria ter não apenas um plano, eu queria ter dois!

O que mais eu escutava eram coisas como:

  • “Você não precisa disso agora, está muito cedo…”
  • “Invista em um imóvel primeiro…”
  • “Você mal entrou no mercado de trabalho e já está pensando em se aposentar”

O plano da minha empresa era um plano de Benefício DefinidoBD que estava em fase de estudos pra promover a migração para um plano de Contribuição DefinidaCD.

Para quem não está muito familiarizado com os termos, seguem definições não muito comuns, mas de fácil entendimento:

Plano BD – Plano de previdência no qual o benefício futuro a ser recebido, embora desconhecido seu valor exato, é definido logo na adesão, mediante uma regra de cálculo teórica. Não há uma relação direta entre o total pago durante todo o período de contribuição e o valor do benefício a ser recebido.

Por exemplo: o benefício pode ser a média dos últimos 36 salários recebidos imediatamente antes da aposentadoria, deduzindo a parcela que seria responsabilidade do INSS.

Mas, e se esse essa média salarial fosse muito maior que o salário médio da vida inteira do participante? A resposta é que o benefício seria desproporcional em relação a tudo que ele contribuiu a vida toda. Ele receberia muito mais do que pagou, por exemplo.

Plano CD – Plano de previdência no qual o benefício será determinado em função do saldo acumulado. Ou seja, quanto maior tiver sido a contribuição, maior será o benefício. Nesse caso, ele recebe um benefício de acordo com o seu esforço financeiro feito ao longo de toda sua vida.

E a minha decisão para o segundo plano foi…

Ter um plano de mercado, um plano dentre os chamados “Planos Tradicionais“, oferecidos pelas Seguradoras ou Entidades Abertas de Previdência Complementar.

Esses planos já não existem mais nas prateleiras há muitos anos. Quem comprou, comprou, quem não comprou não os compra mais…

Quem tem um plano desses possui um verdadeiro tesouro nos dias de hoje. Sabe por que?

O Plano Tradicional:

1 – Garante uma rentabilidade mínima real de 6% ao ano.

2 – Garante a variação do IGP-M sobre todo o investimento. Seu patrimônio está garantido contra perdas de inflação medidas por este índice.

3 – Garante repasse de 75% do Excedente Financeiro para o participante.

4 – Garante o pagamento de uma renda vitalícia, com base numa expectativa de vida (medida por uma tábua atuarial) muito menor do que a prevista para uma pessoa hoje em dia.

5 – Garante que o benefício será calculado com base numa rentabilidade real de 6% a.a.

E o que isso quer dizer, me explica?

As características 1 e 2 acima garantem que, mesmo que haja crise no mercado financeiro, pandemia, crise de corrupção no país, queda da economia global, impeachment ou qualquer outro fato relevante, a minha aplicação em previdência privada tem assegurada em contrato uma rentabilidade mínima! Pode ser um péssimo ano da renda fixa, variável que nada irá comprometer a variação positiva do meu investimento.

Um fato recente que exemplifica o que estamos apresentando é que em 2020, o índice IGP-M, medido pela FGV, foi de aproximadamente 23%. Isso significa que os participantes desses planos tiveram um rendimento de aproximadamente 30% no ano! E detalhe: sem riscos!

Pense aí num investimento, sem riscos, que tenha obtido um rendimento similar…

O item 3 assegura ainda que, caso a rentabilidade em um determinado ano supere o mínimo garantido, 75% deste excedente deverá ser repassada ao participante.

O item 4 é uma importante garantia também. Isso porque, pelo fato da seguradora ser obrigada a seguir as regras do contrato previdenciário, ela deve considerar que “vou viver menos” e a consequencia é que o valor do benefício a ser pago será maior do que seria, se ela pudesse considerar a atual expectativa de vida de uma pessoa hoje.

E ela (a seguradora), não pode mudar essa “premissa”. A SUSEP não permite!

Ah se pudesse voltar atrás…

O item 5 é um pouco mais difícil de explicar, mas vamos lá…

Imagine que você possui uma patrimônio aplicado em uma aplicação financeira. Quanto maior a rentabilidade esperada (taxa de juros real) para o futuro, é de se imaginar que mesmo que você vá realizando saques mensais, esse patrimônio leve mais tempo para se esgotar do que se tivesse aplicado em outra que desse um rendimento menor, certo?

Agora imagine que:

  • Esse patrimônio quem administra é a seguradora.
  • Quando você se aposenta, você transfere em definitivo pra empresa seu patrimônio com a contrapartida da obrigação dela lhe pagar um benefício mensal vitalício.
  • A seguradora já calculou seu benefício considerando que a rentabilidade seria de 6% + IGP-M
  • Independentemente de como ela vai conseguir rentabilizar seu patrimônio, no final das contas, seu benefício já está sendo pago.
  • Se a rentabilidade for menor, prejuízo para a seguradora

Pois bem, é justamente por isso que planos que asseguram rentabilidade mínima “pagam” um benefício maior.

Apenas como comparativo, hoje em dia, os planos do mercado oferecem apenas a “garantia” de rentabilidade zero, em sua esmagadora maioria.

E isso significa…

  1. Que seu benefício de previdência seria MUITO menor, com o mesmo patrimônio num plano Tradicional;
  2. Que qualquer rentabilidade obtida acima de zero é lucro para a seguradora (apenas uma parte pode ficar para você, se previsto o repasse de um % do excedente financeiro).
  3. Que a seguradora só garante que você não terá perdas inflacionárias no seu benefício.

Então, diz aí… devo ou não devo me orgulhar da minha decisão financeira?

O que é difícil de acreditar é que os Planos Tradicionais não eram vendidos com a facilidade que hoje produtos muito piores são vendidos.

Quando estava estudando qual plano escolheria, conversei com diversos amigos, pessoas próximas e dei, de forma “mastigada”, todas as informações e justificativas para que eles pudessem também ter um plano de previdência diferenciado.

Lembro que consegui convencer umas 6 pessoas. A metade delas ainda tem o plano até hoje, as demais resgataram e se lerem este post, vão sentir um certo arrependimento…

Inclusive, saíram algumas reportagens em jornais que me recordo de ter lido, como por exemplo do Valor Econômico, na coluna da Mara Luquet, que estavam contados os dias desses planos.

As reportagens da época se referiam às previsões econômicas que apontavam para uma tendência dos investimentos de longo prazo, como por exemplo os títulos públicos com vencimento para 20 e 30 anos , reduzirem as taxas elevadas para patamares bem menores (realidade que veio a se confirmar anos depois).

As pessoas não acreditavam em previdência, eram ainda mais desconfiadas do que são hoje. Afinal, a informação não era tão fácil de se obter como hoje.

E o mercado, o que oferece hoje?

De forma majoritária, encontram-se em corretoras de valores mobiliários, bancos e afins os planos PGBL e VGBL. São esses planos que, além de não garantirem rentabilidade mínima alguma, tem como principal característica o resgate em vez do benefício, e consequentemente, uma grande quantia paga em imposto de renda, reduzindo bastante o que as pessoas terão a receber.

Para entender se resgatar é uma boa decisão financeira, convido você a ler sobre este assunto nessa série de 5 publicações que estão disponíveis no nosso portal.

A Multixplique não recomenda nenhum desses planos. Se você quer conhecer um plano de previdência com nosso “selo de qualidade”, acesse esse link aqui

O interessante é que, embora hoje não haja produtos como os Planos Tradicionais, ainda existem produtos de previdência que valem muito à pena.

Vamos deixar para falar mais sobre eles em um novo post.

Se você gostou deste texto, deixe-nos saber com um comentário.

Se você quer indicações, deixe-nos saber. Quem sabe não temos como ajudar a escolher um novo tesouro para você?

#multixplique

Este post tem 4 comentários

  1. Ana

    Muito bom o post. Ficou a dúvida: afinal, o seu plano tradicional é BD?

    1. Hugo Elsenbusch

      Oi Ana, agradeço por entrar em contato. Na época, eu entrei no plano BD, que era o único oferecido pela empresa. Anos depois, houve uma proposta para migração para o plano CD, que no meu caso, se mostrou a melhor decisão. Inclusive hoje, o plano BD está com um déficit elevado e eu estaria pagando uma fortuna para ter direito ao benefício.

      Além disso, mantive o plano tradicional, que é o tema principal da publicação. No último ano a rentabilidade foi de incríveis 32%, por causa da variação do IGP-M.

      E continuo contribuindo. Em breve, vou continuar essa história e colocar o link aqui.

  2. Antonio

    Hugo parabéns pelo excelente conteúdo do Multixplique.
    Li atentamente esse post e estou recomendando para amigos.
    Brasil é muito carente de educação financeira e previdenciária.
    Siga em frente produzindo conteúdo com essa qualidade. Show de Bola !!!

    1. Hugo Elsenbusch

      Antonio, fico muito grato pelo comentário. Esse é o principal combustível da Multixplique, ver que nossas publicações podem agregar conteúdo e na medida do possível, ajudá-las a mudar a forma como tomam decisões financeiras em benefício de uma qualidade de vida melhorada.

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