Dificilmente quem decide investir em ações está preparado para as oscilações deste mercado. Não basta informar que o investimento é de risco, que pode haver perdas, que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura. Na cabeça de quem está começando parece só existir uma verdade: vou conseguir ganhos elevados.

O que as pessoas querem? Ganhar dinheiro.

Em quanto tempo elas querem? Rápido, muito rápido.

Por que elas de repente começam a investir em ações? Porque ouviram falar que a renda fixa “não está rendendo nada”.

A profissão de planejador financeiro no Brasil ainda é muito pouco conhecida, porém, bastante valorizada no mercado financeiro.

Nessa publicação, queremos lhe apresentar uma persona. Seu nome é Marcos Capochim, 40 anos de idade, com um bom emprego, casado e com duas filhas. Ele tem uma vida financeiramente equilibrada, possui algum dinheiro na poupança. Sua experiência em investimentos é praticamente nula. Mesmo assim, Capochim está convencido que vai tirar seu dinheiro da poupança. Descobriu que nos últimos 12 meses sequer a inflação ele conseguiu obter como resultado do seu investimento.

Indignado, percebeu ainda que nos últimos 10 anos, tudo que ele vinha sistematicamente poupando tem poder de compra menor do que ele projetava.

Cansado e com a sensação de “enxugar gelo”, tomou a seguinte decisão: investir no que rendeu muito no ano anterior.

Qual a escolha de Capochim?

Se você pensou em Tesouro Direto, ou melhor, os títulos pós-fixados Tesouro IPCA+ que se beneficiaram da queda da taxa de juros no Brasil, você está enganado!

Capochim tem fome de ganhar dinheiro e quer recuperar o tempo perdido. Para isso, sua melhor estratégia já foi montada por ele, depois de assistir alguns vídeos no YouTube e Instagram.

Capochim vai investir em:

  • Bitcoins
  • Ações, inclusive IPOs

Se você ainda não sabe o que é um IPO, esta é uma sigla da língua inglesa que significa “Initial Public Offer”, que nada mais é do que Oferta Inicial Pública de ações. É basicamente quando uma empresa resolve abrir seu capital na Bolsa e vai oferecer suas primeiras ações no mercado, em que os investidores compram todos pelo mesmo preço no momento do lançamento.

O que tem de errado na estratégia de Capochim?

Inicialmente o nosso personagem está se aventurando, literalmente, em um mercado que ele simplesmente não conhece, nunca viveu a experiência. O pouco que ele sabe é que precisa abrir uma conta em uma corretora de valores e responder um questionário de perfil de investimentos. Logo após o preenchimento de algumas informações cadastrais, ele estará apto a operar, assim que transferir os seus primeiros recursos financeiros para a corretora de sua preferência.

O que poderia ser diferente se houvesse a ajuda de um planejador financeiro?

Muita coisa!

Inicialmente, depois de uma entrevista com o planejador, Capochim responderia um questionário específico, o API – Análise de Perfil do Investidor. Trata-se de um documento que contém uma série de perguntas que buscam identificar qual o perfil do investidor, qual seu possível comportamento em função de diferentes cenários positivos e adversos no mercado financeiro e principalmente, quais seus objetivos, qual sua experiência em produtos financeiros e qual o prazo que ele espera ou imagina que irá precisar do seu dinheiro.

Porém, Capochim descarta contratar um planejador financeiro.

Em menos de 2 dias, Capochim divide seu patrimônio: 50% somente em criptomoedas (Bitcoin) e 50% em ações.

Capochim acredita que seu investimento será de longo prazo e não pretende mexer nos investimentos antes de atingir as rentabilidades pré-estabelecidas. Em outras palavras, Capochim está disposto a esperar seu investimento atingir níveis de rentabilidade considerados ideais, baseado no histórico que estudou em suas pesquisas no Google:

Bitcoins – 140%

Ações de cias aéreas e turismo – 30%.

Estamos falando da heurística comportamental Ancoragem. Em outras palavras, é um atalho mental adotado pelo nosso querido Capochim, que o fará tomar uma decisão financeira. Este tipo de comportamento é muito comum nas pessoas. Para saber mais, recomendamos o livro “Rápido e Devagar”, de Daniel Kahneman, que inclusive ganhou um prêmio nobel de economia por publicar uma tese sobre finanças comportamentais.

Voltando ao caso do Marcos Capochim, enquanto seu investimento não atingir respectivamente 140% de rentabilidade em bitcoins e 30% em ações, ele não venderá seus ativos.

Segundo suas análises, em 12 meses as ações já terão atingido tal rentabilidade e no caso dos Bitcoins, serão necessários em torno de 5 meses. Porém, Capochim sabe que não poderá esperar mais um pouco se for preciso. Embora ele acredite no que diz, seu projeto não é de longo prazo.

Infelizmente, Capochim (e todo o mercado financeiro) não contavam com a Covid19. Em pouco mais de 1 mês, mesmo vendo seu dinheiro investido em 2020 na B3 reduzir-se em mais de 70%, Capochim permanecia com suas ações.

Totalmente incrédulo, ao não vender seus papéis, Capochim apresentava o viés comportamental conhecido como aversão à perda, pois, com medo de “vender na baixa” e realizar prejuízo, ele insistia no que considerava ser a melhor estratégia: “vai voltar”, mesmo que não houvesse indícios para acreditar, no prazo que ele precisava.

Já nos bitcoins, a história foi ainda mais trágica. Depois de uma euforia de ganhos de 90%, (não realizados) logo nos primeiros 3 meses, a queda de 70% em 2 dias o deixou desolado e, (como não dizer?), em depressão…

Atormentado pelas más decisões financeiras, Capochim concluiu:

“Esse negócio não é para mim”.

Final da história

Capochim vendeu suas criptomoedas, vendeu suas ações e transferiu o pouco que lhe sobrou para a poupança novamente. Teve que desistir de seu projeto de reformar sua casa e não participa mais de nenhuma discussão sobre investimentos, um de seus hobbies favoritos antes de se aventurar nesse mundo financeiro. Há quem diga que hoje Capochim nem assiste mais YouTube e deixou de seguir todos os seus antigos influenciadores.

Capochim não lê mais notícias em sites de finanças e quando escuta alguém dizer que a Bolsa atingiu máximas históricas recentemente, sempre responde da mesma forma:

“Cuidado! Eu conheço pessoas bem esclarecidas que perderam quase tudo que tinham por subestimarem os riscos desses investimentos”.

Se você gostou dessa publicação e quiser ler outras semelhantes, pode clicar aqui e ler a 1ª publicação que fizemos com esse tema “Decisões financeiras equivocadas”. Cada publicação tem um link para a próxima.

#multixplique

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